A minha desforra são palavras.
Levanto-me de manhã amarrotado pelo peso inclemente das mentiras
e vazo no real outro real
das letras que ninguém vislumbrará.
O pássaro que canta é uma palavra,
é uma carta escrita a este,
àquele,
que me saiu do lápis da amargura;
tudo se refaria se jamais feita fosse alguma coisa que a minha mão não desse.
Desforro-me sem gosto.
Desforro-me sem gasto,
acorrentado ao que me vem de trás
e ao que virá
e que não sei se quero.
[in Analogia e Dedos, Oceanos, 2006]
Pedro Tamen
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