quinta-feira, 12 de março de 2009




A minha desforra são palavras.

Levanto-me de manhã amarrotado pelo peso inclemente das mentiras

e vazo no real outro real

das letras que ninguém vislumbrará.

O pássaro que canta é uma palavra,

é uma carta escrita a este,

àquele,

que me saiu do lápis da amargura;

tudo se refaria se jamais feita fosse alguma coisa que a minha mão não desse.

Desforro-me sem gosto.

Desforro-me sem gasto,

acorrentado ao que me vem de trás

e ao que virá

e que não sei se quero.


[in Analogia e Dedos, Oceanos, 2006]
Pedro Tamen

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