sexta-feira, 19 de setembro de 2008

REVELAM-SE PUROS OS MEUS DEDOS...

" Revelam-se puros os meus dedos sobre a tua pele, onde me deito e o desejo rasga a minha voz em asas de silêncio.
acendem-se como lâmpadas para te encontrar e, como aves libertas, acordam a noite,
poisam devagar nas tuas pernas,
debicam os teus seios
e descem lentamente as tuas costas até ao fundo e surpreendem-se,
enlouquecem nas tuas nádegas macias e brancas,
quentes, como os alegres pães da minha infância.
E o teu corpo estremece, desperta para uma interminável madrugada,
onde não há palavras,
e uma intensa alegria tem o sabor dos teus beijos
quando os nossos labios acendem uma fogueira de rosas
que ilumina a solidão pela noite fora.
E tudo me perturba. De tudo me esqueço
quando nos tocamos, assim, até ao fundo.
Quando me ofereces no teu corpo a paisagem livre e apetecida de um campo perfurmada,
o bosque vivo e húmido que me desafia e atraí,
onde me encontro e perco.

Ama-me, sem horas. Sem palavras.
Deixa-me esperar contigo a madrugada.
Sim, deixa que os meus dedos
como potros em fuga percorram mil vezes as dunas do teu corpo
e se escondam depois para dormir nos teus cabelos.
Deixa-me penetrar em ti como se fosse a ultima vez
e nada existisse depois.
Deixa que todo o amor percorra as nossas veias
até que nos doa o sangue,
até que os nossos beijos nos desfaçam a boca
e os nossos corpos atinjam o orgasmo das estrelas e das rosas, até que nada nos separe
a caminho de nós."

J. Pessoa

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